Assim como muitas outras empresas na Europa e no mundo, os setores da economia ligados à bicicleta foram duramente atingidos pela crise do coronavírus – Covid-19. No entanto, a grande maioria das empresas permanece confiante em sua sobrevivência e novas oportunidades podem surgir durante a fase de recuperação - especialmente se os tomadores de decisão em política econômica seguirem recomendações de especialistas para enfatizar mais a sustentabilidade
O fechamento forçado de lojas, o colapso da demanda e a interrupção das cadeias de suprimentos em todo o mundo estão afetando atualmente a indústria de bicicletas e seus vários subsetores. Em uma pesquisa realizada pela entidade que reúne a indústria europeia, a CIE - Cycling Industries Europe; uma das organizações parceiras da ECF – Europeans Cyclists Federation (Federação Europeia dos Ciclistas – entidade que de maneira geral trabalha no interesse de polítcas de mobilidade e interesses dos usuários da bicicleta . Mais de 70% das empresas experimentaram impactos no setor, como problemas na cadeia de suprimentos, interrupções nos investimentos e diminuição das vendas entre empresas. 38% relatam escassez de pessoal devido a medidas de isolamento.
No mesmo trabalho foi destacado que 72% das empresas do setor relataram um declínio de receita em comparação com o ano passado. No período 41% das empresas reduziram sua força de trabalho, o que poderia significar mais de 20.000 empregos reduzidos no setor de bicicleta e serviços, além de mais de 400.000 empregos em risco nas operações que envolvem o turismo em bicicleta
Paralelamente a esses grandes desafios para o setor, a pesquisa também revelou alguns lampejos de esperança: 67% das empresas solicitaram ou já foram capazes de receber algum tipo de auxílio estatal, na maioria dos casos apoiando salários. O mais importante é que 95% das empresas afirmaram acreditar que provavelmente ou muito provavelmente sobreviverão à crise.
Andar de bicicleta como um meio de transporte resiliente e saudável durante a crise
Há razões para um otimismo cauteloso: durante a crise do coronavírus, a bicicleta provou ser um meio de transporte resiliente que também é benéfico para a saúde pública. Facilita o respeito ao distanciamento social e ajuda a manter o sistema cardiovascular e os pulmões saudáveis, prevenindo doenças e protegendo o corpo contra infecções. O ministro da saúde alemão, recomendou o uso da bicicleta para viagens essenciais já em março, e foi seguido em abril por seu colega espanhol. Em cidades europeias como Paris e Londres, as operações do sistema de compartilhamento de bicicletas foram mantidas como uma alternativa mais segura ao transporte público, e iniciativas como créditos gratuitos para profissionais de saúde foram implementadas pelos operadores.
Os defensores da bicicleta fizeram sua parte para garantir que os serviços relacionados a ela fossem reconhecidos como essenciais durante a crise: a ECF e a CONEBI – Confederação Europeia da Indústria da Bicicleta publicaram uma declaração solicitando para que os serviços de reparo/oficinas mecânicas pudessem operar durante toda a crise em todos os países da União Europeia. A associação alemã ADFC – que cuida dos interesses do usuário da bicicleta e membro da ECF em conjunto com outras associações alemãs que representam o setor, pediram com sucesso que as lojas de bicicleta estejam entre as primeiras a reabrir sem restrições quanto ao tamanho das lojas; e CIE, ECF, CONEBI, juntamente com outras associações europeias, lançaram a campanha #CyclingTheExtraMile, destacando iniciativas e empresas do setor da bicicleta que apoiam suas comunidades, profissionais de saúde e assistência e outros serviços essenciais durante a pandemia do COVID19.
Novas oportunidades para uma mobilidade mais sustentável na recuperação
Olhando para além das atuais restrições severas à mobilidade em muitos países europeus, podem surgir durante a fase de recuperação novas oportunidades para a bicicleta. Atualmente, cidades como Berlim e Paris começaram a usar técnicas de “urbanismo tático” para criar novas ciclovias, a fim de acomodar o aumento de ciclistas seguindo as recomendações mencionadas acima. Há uma chance substancial de que essas novas infraestruturas permaneçam também após a remoção dos bloqueios, melhorando as condições para pedalar a longo prazo e aumentando a demanda por bicicletas e serviços relacionados.
Na Dinamarca, o pacote de recuperação do governo para os próximos anos inclui financiamento para a Cyklistforbundet – associação de ciclistas – que deverá construir um centro especializado para incentivar a que as empresas substituam carros por bicicletas nos serviços de entregas e para que as empresas incentivem seus funcionários a que utilizem a bicicleta diariamente em seus deslocamentos.
No setor de turismo, os especialistas preveem uma demanda maior por viagens mais perto de casa, evitando grandes concentrações de turistas. Isso, na Europa , inclui uma demanda maior por turismo de bicicleta, que atende a esses critérios perfeitamente e oferece opções de férias mais ativas e sustentáveis.
No entanto, a fase de recuperação será em grande parte moldada não apenas pelas mudanças de comportamento e demanda dos usuários e consumidores, mas também pelas políticas econômicas implementadas.
Inúmeros especialistas, incluindo a Academia Nacional de Ciências da Alemanha, em seu relatório para o governo alemão, pediu aos políticos que não abandonem as metas de sustentabilidade e proteção climática em prol de uma recuperação de curto prazo no crescimento, mas para integrá-las a planos de recuperação econômica definindo o caminho para o crescimento sustentável com ainda mais ênfase do que antes da crise. Isso também foi ecoado em uma convocação da “Aliança de Recuperação Verde” para apoiar e implementar o estabelecimento de Pacotes de Investimento em Recuperação Verde, e a convocação de 13 ministros da União Europeia em matéria de clima e meio ambiente colocando o acordo verde europeu no centro de uma recuperação resiliente após a Covid-19.
Na Europa as entidades que representam a mobilidade e os ciclistas e seus parceiros na indústria da bicicleta defenderão que esses apelos sejam traduzidos em investimentos substanciais em mobilidade ativa e sustentável, com um papel de destaque no ciclismo, no nível europeu, por exemplo, no âmbito do Acordo Verde Europeu. Garantindo que o atual interesse renovado pela uso da bicicleta tenha impactos positivos a longo prazo, melhorando as condições para o ciclismo e a mobilidade sustentável em toda a Europa e contribuindo para uma recuperação verde da Europa.
Texto original de Holger Haubold - Diretor de Propriedade Intelectural e Coleta de Dados da ECF
Fonte: ECF – Europeans Cyclists Federation
Fotos: Tobias Cornille-Unsplash - City Clock Magazine-VisualHunt
(Bike-Europe/Divulgação)
27 Abril 2020
Mobilidade