Ciclistas cobram a Prefeitura de São Paulo para que incentive o uso da bicicleta como meio de transporte para quem precisa se deslocar durante a pandemia do coronavírus, com a implantação de estruturas temporárias no viário urbano. A medida já tem sido implementada em outras metrópoles do mundo para evitar aglomerações no transporte público.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a população priorize a bicicleta como deslocamento durante a pandemia porque ela "permite distanciamento social, enquanto proporciona o mínimo de atividade física necessária por dia". O uso de transporte por ônibus, trens e carros, por outro lado, é alertado pela OMS junto a uma série de recomendações, como a necessidade de se evitar o horário de pico e cobrir o nariz e a boca, e não tocar em superfícies .
Por esse motivo, diversas organizações de ciclistas e pedestres de São Paulo, que incluem a ONG SampaPé!, o Instituto Aromeiazero, a Minha Sampa, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), a Ciclocidade, a União de Ciclistas do Brasil e a Câmara Temática da Bicicleta (CTB) da própria Prefeitura pedem que a gestão Bruno /covas (PSDB) proporcione condições seguras para deslocamentos a pé e de bicicleta.
Além da orientação da OMS, os coletivos argumentam que diversas cidades do mundo estão se planejando neste sentido, como Bogotá, na Colômbia, que desde o primeiro dia de quarentena implantou ciclovias temporárias como forma de evitar aglomeração no transporte público - hoje, totalizam 80 km de ciclovias temporárias.
"Especialistas e cidades do mundo todo estão indo nesta direção e comprovando que medidas pró-mobilidade ativa melhoram qualidade de vida e salvam vidas. Elas podem minimizar a lotação no transporte público, evitar custos e diminuir as diversas comorbidades geradas pela poluição e pelo sedentarismo. Muita gente em São Paulo diz que passaria a pedalar se fosse mais seguro", diz Sasha Hart, pesquisador, hidrogeólogo e conselheiro da Câmera Temática da Bicicleta.
Um levantamento da Organização Panamericana de Saúde (Opas) da OMS identificou mais de 100 intervenções similares em todo o mundo, como a criação de ciclofaixas provisórias, além da restrição de circulação e redução da velocidade do tráfego.
Há ainda cidades que apostam no incentivo para o deslocamento a pé, como a abertura de faixas de ruas para pedestres, e como em Milão, na Itália, onde os espaços de estacionamento serão destinados a ampliação de calçadas. Iniciativas similares têm sido adotadas em Nova Iorque, nos EUA, e Toronto, no Canadá, que também redimensionaram as calçadas das cidades durante o combate ao coronavírus.
O que diz a Prefeitura
Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes não respondeu sobre a possibilidade de implementar estruturas temporárias durante a pandemia, mas disse que mantêm a execução do Plano Cicloviário, com 110 km de obras em andamento para a construção de ciclofaixas e ciclovias.
Em entrevista no dia 27 de abril, o secretário municipal de mobilidade e transportes, Edson Caram, demonstrou receio em implementar as ciclovias temporárias sem estudo, mas disse que faria campanha de incentivo para uso da bicicleta como meio de transporte durante a pandemia.
"Logo no começo da pandemia, uma das primeiras ações que eu comentei foi a utilização da bicicleta. A bicicleta pra mim seria a solução de todos estes problemas. Porque eu teria a população isolada - cada um na sua bike, eu teria uma melhor qualidade de vida na cidade de São Paulo - com menos poluição, e eu teria menos demanda no transporte coletivo", disse o secretário.
"Pra mim, a melhor equação é a utilização da bike", reforçou Caram. "Pensamos na Prefeitura de que forma a gente poderia fazer, só que isso requer estudo, e o tempo que nós tivemos para trabalhar foi muito pequeno. Não foi um tempo suficiente para elaborar uma proposta ideal para que isso aconteça. Mas vou trabalhar essa questão", afirmou.
Bicicleta na pandemia
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) possui três contadores de bicicletas fixos e automáticos na capital paulista.
O contador na ciclovia da Avenida Faria Lima, na Zona Oeste da cidade, indicou queda pela metade do uso das bicicletas durante a quarentena, considerando todo o mês de abril deste ano, quando comparado o mesmo período de 2019, passando de 188.493 ciclistas para 91.994.
Quando considerado apenas os finais de semana de abril de 2019 e 2020, no entanto, houve um aumento de 9,4% no uso da ciclovia da Faria Lima, de 29.260 para 32.025 passagens.
Já o contador na ciclovia da Rua Vergueiro, na Zona Sul, revelou que os moradores do entorno utilizaram mais as bicicletas não apenas nos finais de semana, como durante todo o mês de abril de 2020, em comparação com abril de 2019.
Passou de 60.538 para 78.611 o número de ciclistas flagrados pelo contador, um aumento de 29% do uso da ciclovia da Rua Vergueiro no mês de abril. Nos finais de semana, as passagens de ciclistas subiram de 11.218 para 26.113, um aumento de 132,7%.
O contador da Avenida Doutor Gastão Vidigal, na Zona Oeste de São Paulo, foi instalado em agosto de 2019, impossibilitando um comparativo.
fotos: Wal172619-Pixabay/DGislason-Pixabay
(G1)
27 Maio 2020
Mobilidade