GRANDES MARCAS BUSCAM PRODUÇÃO DE QUADROS MAIS PERTO DE CASA

GRANDES MARCAS BUSCAM PRODUÇÃO DE QUADROS MAIS PERTO DE CASA

Grandes marcas europeias começaram a fazer na indústria da bicicleta o movimento de retorno à produção no velho continente. Trata-se de um movimento estratégico que visa reduzir os prazos de entrega, flexibilizar a cadeia de suprimentos ou até facilitar a readequação de um determinado produto . Esse movimento é conhecido por reshoring, e começou em outros setores da indústria com empresas norte-americanas levando suas fábricas que foram transferidas para a China de volta para os Estados Unidos. Alguns dos motivos que levaram a algumas empresas a adotarem o reshoring manufacturing foram os aumentos, nos últimos anos, dos salários dos trabalhadores chineses, a constante oscilação nos preços dos fretes transoceânicos e para completar, muitas operações na Ásia estavam sujeitas a inflexibilidade dos fornecedores que exigiam grandes volumes de compras, gerando grandes estoques há quem também questionasse os desafios encontrados em trabalhar em diferentes fusos horários e em diferentes línguas, apesar do uso comercial do inglês, o trabalho nas linhas de produção e em outros setores muitas vezes estava limitado às questões de interpretação idiomática.

Um sinal desse novo momento foi dado pelo presidente do Banco Mundial, o coreano Jim Yong Kim em declarações à imprensa no ano passado ao dizer que após algumas décadas de crescimento da terceirização da produção em indústrias asiáticas o que veremos nos próximos anos é um retorno da produção ao Ocidente. O tema desse retorno já foi discutido por gente do setor na última edição da Eurobike’2016.

Há vários argumentos que servem de diretriz para o assunto: a pressão dos consumidores da internet que querem entregas cada vez mais rápidas e com isso, em mercados sofisticados, fala-se em horas para uma entrega e não mais em semanas, isso coloca pressão sobre as montadoras que precisam ter agilidade na entrega, repercutindo na cadeia de produção que precisa de respostas rápidas e muitas vezes com até personalização do produto final, assim para muitos a solução que vai muito alé dos custos é por levar a produção para lugares mais próximos do mercado consumidor. Há ainda quem argumente que essa mudança poderia contribuir na redução das emissões de dióxido de carbono associadas aos transporte de cargas originários da Ásia, ou seja para um produto que vende um conceito ecológico, a pegada ecológica ou a neutralização das emissões de carbono para a produção de um quadro de bicicleta seriam reduzidas.

Para se ter uma ideia de aonde os grandes operadores da indústria da bicicleta europeia querem chegar, grupos como Decathlon (rede de lojas multiesportes espalhado por toda a Europa) e o Accell Group (dono das marcas Raleigh, Diamondback, Redline Lapierre, Atala, Koga e Batavus entre outras) e mais alguns peso pesados tem em sua estratégia a redução nos prazos de entrega na cadeia produtiva, saindo das atuais 26 semanas para apenas 8 semanas. A redução dos prazos de entrega aumentaria a velocidade de resposta, reduzindo o tempo de mercadorias paradas em estoques por consequência o tamanho destes, e otimizaria a oferta. Há muita especulação por trás disso tudo, mas são dados que merecem ser analisados com muita atenção, estão voltados para o mercado europeu aonde logística e questões alfandegarias (afinal muitos dos componentes para montar da bicicleta ainda seriam produzidos na Ásia) não são um entrave.

Em 2015, a espanhola Orbea fechou sua fábrica em Khunshan, na China, e a levou para uma nova planta construída em Águeda, Portugal, um dos motivos alegados foi a velocidade, flexibilidade e a possibilidade de customização do serviço aos clientes. Na virada de 2016 para 2017 apareceram novos player’s no setor que apontam para o caminho do retorno à produção voltada para operadores europeus; analisando a capacidade de produção instalada pode-se acreditar que além de atender a produção para suas marcas, estas duas novas fábricas poderão muito em breve,  tornarem-se fornecedoras para o mercado de OEM.

Uma dessas empresas é a turca KOREL Elektronik Sanayi ve Ticaret A.Ş, uma gigante que opera anualmente com mais de 25 mil toneladas de alumínio para atender os mercados da indústria automobilísticas, de calefação e refrigeração. A empresa possui mais de 15 extrusoras e domina todo o processo do alumínio do lingote a formação do tubo, passando pelo tratamento térmico. Em 2015 a diretoria da empresa decidiu entrar no mercado das bicicletas, para isso investiu em alta tecnologia, sua fábrica é totalmente automatizada, atualmente são 12 robôs que realizam a solda e todo o trabalho do quadro. Assim criaram para o mercado turco as bicicletas Corelli e a linha de componentes Dacron (aros, rodas, guidões, canotes de selim, garfos e bagageiros). Atualmente a fabrica tem a capacidade de produzir um milhão de bicicletas ano, mas segundo informações de especialistas do setor facilmente pode elevar sua produção ao patamar de quatro milhões de quadros por ano, além de capacidade industrial o grupo também tem folego financeiro para um salto dessa amplitude. A vantagem do novo fabricante turco, além da proximidade com a Europa é a isenção de impostos para colocar seus produtos nos países membros da União Europeia,, some-se a isso a desvalorização da lira turca em relação ao Euro o que é mais um atrativo, nos meios especializados já se comenta que um grande grupo europeu já iniciou contatos para uma possível substituição de quadros atualmente produzidos na China e no Vietnã.

Valendo-se do discurso da otimização dos prazos de entrega , da maior flexibilização na cadeia de suprimentos e principalmente dos incentivos oferecidos pelo governo português com a criação do Portugal Bike Value - ou Portugal Bike Valley como também é conhecido internacionalmente o cluster estabelecido na região do Aveiro, mais precisamente em Águeda que no passado era conhecida como a capital da bicicleta, estão sendo reunidas importantes empresas de tecnologia, componentes e montagem de bicicletas algumas empresas do setor começam a se deslocar para a região que está se transformando em nova referencia para a indústria que atende o mercado europeu.
A chinesa Fritz Jou Manufacturing que pretende montar uma planta industrial aonde será possível produzir 250 mil bicicletas ano para atende a produção terceirizada de quadros para algumas marcas de grife. Outro grande que deslocaria sua produção de fabricas na Tunísia e no Camboja seria a Cronus-Oscar Bikes que tem em planos a montagem de uma fabrica para a produção de 600 mil bicicletas ano.
De fato, quem já iniciou as operações, além do grupo espanhol Orbea, foi a Triangle’s Cycles Equipment, uma empresa criada a partir de três tradicionais fabricantes portugueses a Rodi, a Miranda e a Ciclo Fapril. O investimento para primeira fase das operações ultrapassa os 14 milhões de euros (R$ 48 milhões), sendo que 60% desse valor é proveniente de um fundo de incentivos e garantira a produção anula de 450 mil quadros em duas linhas de produção totalmente automatizadas , cada uma com 10 robos de de soldagem e preparação automática dos tubos – o processo de completo de produção de um quadro leva de 4 a 5 minutos.
A Triangle tem por objetivo a exportação de 90% de sua produção, fornecendo quadros de alumínio para e-bikes e atendendo também o mercado de linha média e alta em quadros de alumínio no segmento esportivo das mountain bikes e estradeiras.
Com esses movimentos pode-se chegar a ousar e dizer que uma nova geopolítica da indústria da bicicleta começa a ser construída. Após a fuga da produção de quadros de alumínio desde os anos 1990 para a Ásia começamos a acompanhar uma nova movimentação que coloca novos players no mercado, força a “imigração” de fabricantes asiáticos que capitalizados farão novos investimentos e gerarão empregos no Velho Continente e apresenta uma nova face do mercado: a dinâmica e a maior flexibilidade nas linhas de produção.

Fotos: BPBricklayer-Visualhunt.com / 

(MundoBici )

Admin

20 Fevereiro 2017

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