O uso da psicomotricidade utilizando a bicicleta como terapia vem sendo considerado inovador na assistência a pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a novidade tem sido utilizada no Núcleo de Atendimento ao Transtorno do Espectro Autista (Natea), que funciona no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), em Belém do Pará.
De acordo com o terapeuta Remyson Leite, profissional de educação física, o ato de pedalar a bicicleta é uma atividade de coordenação bilateral com os dois lados trabalhando de forma alternada. “As duas pernas realizam o mesmo movimento, fazendo com que a criança tenha um bom tônus muscular para poder realizar o movimento de pedalar. Caso não possua esse ponto positivo, ela vai realizar o movimento para trás, fato natural que a maioria das crianças diagnosticadas com autismo realiza; pedalar sempre para trás”, pontua.
Segundo o profissional, a facilidade em pedalar para trás ocorre porque a criança não tem resistência e força para seguir à frente. “Portanto, é mais fácil ela pedalar para trás, já que não há resistência nenhuma ou planejamento motor para isso”, explica.
Assim como em outras atividades, o andar de bicicleta é um sequenciamento de ação. “Por exemplo, quando você corta um papel, esse ato requer uma sequência de movimentos que vai cortando o papel de uma ponta a outra. Do mesmo modo, se a criança não tem um planejamento motor, ela não vai conseguir realizar a pedalada corretamente indo para frente”, destaca o terapeuta.
Diagnosticado com autismo, o usuário Davi Santos, de 9 anos, realizou a sua terceira sessão com o equipamento. Segundo a mãe, Osmarina Santos, de 35 anos, os ganhos já podem ser sentidos no desenvolvimento do garoto. “Hoje, é uma felicidade para mim. Há alguns anos, eu tentava colocá-lo para andar na bicicleta do primo, mas o Davi recusava, chorava muito, gritava em cima da bicicleta. Ele não conseguia pedalar, travava. Com a terapia, percebo um avanço, pois já consegue pedalar para frente. Com este desenvolvimento, o pai planeja comprar uma bicicleta para o Davi”, revela a mãe, emocionada.
Osmarina conta que pedalar, aos olhos da grande maioria das pessoas, é algo natural, mas para uma criança com diagnóstico de autismo, é uma tarefa difícil de executar. “No início, como pais, a gente sofre muito com preconceitos da sociedade. Mas, estamos superando aos poucos as barreiras e, com certeza, a minha expectativa é grande com as próximas sessões da terapia com a bicicleta. Os pais também vão progredindo junto com os filhos porque as dificuldades também são nossas. Ninguém gosta de ver o filho sendo posto de lado por não executar alguma atividade”, ressalta.
Para evoluir no tratamento, o terapeuta explica que foi fortalecida “a sustentação de tronco, força de membros inferiores e quadríceps para que o menino faça determinada força para a bicicleta se movimentar à frente. Um treinamento que garante êxito e autonomia de forma independente”, pontua Remyson Leite.
“Trabalhamos com os reabilitandos em área livre externa da instituição para andar de bicicleta no Jardim Sensorial, vamos até a Orla; tudo para simular como se ele estivesse no dia a dia: subir em calçadas, descer rampa e passar por obstáculos com texturas”, finaliza. O próximo passo de evolução é fazer com que o reabilitando ande na bicicleta sem as rodinhas de apoio.
Serviço: O CIIR é um órgão do Governo do Pará administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). O Centro funciona na rodovia Arthur Bernardes, n° 1.000, em Belém. Mais informações: (91) 4042.2157 / 58 / 59.
fotos: Agência Pará
(Agência Pará)
28 Junho 2023
Mobilidade